Me Perdi?
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Acho que todo mundo já se perdeu, errou o caminho ou até mesmo achou estar perdido, não é mesmo?
é uma sensação horrível, você fica apreensivo, com medo das coisas não se resolverem, de não achar o caminho de volta, de encontrar outro obstáculo no meio, algo que te impeça, mas no final, as coisas tendem a dar certo.
Ah, falo por experiência própria. Não sou a pessoa mais desorientada e sem noção do mundo, mas já aconteceram coisas como me perder um número de vezes até considerável.
Me mudei pra João Pessoa-PB sem conhecer absolutamente nada e então começaram minhas atividades e consequentemente minha locomoção por mim mesma. Ninguém sabia me dizer ao certo que ônibus pegar, em que ponto pegar, nem nada. Então decidi ir até o ponto mais próximo do meu prédio e peguei o ônibus com um número que haviam me dito. O ônibus que deveria ir reto, virou a direita 3 ruas depois e já me desesperei, pedi para o motorista me deixar descer, porque aquele era o ônibus errado, ele foi extremamente grosso comigo e disse que eu só poderia descer no próximo ponto. Além de estar estressada por aquele acontecimento, ainda estava preocupada por chegar atrasada na aula (é, mesmo vocês me achando uma péssima aluna, algumas coisas eu sempre fiz direitinho e com vontade, como ir pras aulas de inglês), então, quando o bendito ponto chegou, ele me deixou descer. O melhor? Não quiseram devolver meu dinheiro, mesmo eu não tendo andado nem um ponto direito e tendo explicado a situação. Achei muita falta de consciência deles, maaas…. Fazer o que? Paguei uma passagem a mais aquele dia.
O lado bom disso? Eu tinha só 15 anos e aprendi a procurar saber bem das coisas, pra não ir parar no lugar errado e na hora errada. Imagina se além de ter que andar um bocado, eu tivesse ido parar em uma favela, (nada contra, mas… as pessoas já não vão muito com a minha cara) ou coisa pior?
Apesar desse episódio dramático, no outro ano aconteceu algo parecido, mas não por minha culpa, e sim de uma amizade, que me deu a informação errada.
Fui na casa de alguém e então teria que ir e voltar de ônibus, mesmo fazendo um ano que estava lá, não conhecia realmente tudo ainda. Principalmente os bairros mais distantes de mim, que eu não costumava frequentar. Então essa pessoa, provavelmente acéfala, disse que eu deveria pegar o ônibus do mesmo lado que tinha descido. Achei meio estranho, mas né, se a pessoa morou ali a vida toda, ela conhece e sabe o que está falando, pelo menos na teoria deveria ser assim.
Peguei o ônibus e quando fui ver, ele estava no seu ponto final, a mais ou menos uma hora de distância na minha casa, no começo do escurecer. Aquilo sim me apavorou, comecei a me desesperar, mas usei o restinho de calma que tinha pra falar com o motorista, explicar a situação e perguntar o que eu podia fazer. Ele foi muito gentil e me disse que eu havia pego o ônibus do lado errado, mas que não precisava me preocupar, que era só eu ficar lá dentro e não precisava pagar outra passagem, que ele ia fazer o intervalo dele e então voltaríamos e eu conseguiria chegar em casa, é claro, com uma demora maior, já que iria começar a pequena hora do rush de lá.
Cheguei em casa tempos depois e aprendi que devo pedir mais informações às pessoas e não confiar numa informação duvidosa de um conhecido.
Bem, depois desses dois episódios, eu realmente aprendi sobre minha nova cidade e que eu me lembre, nunca mais tive nenhum desses ‘acidentes’ que geram desespero e angústia.
Mas bem, todos sabem que sou mesmo é Paulista e tenho que enfrentar a cidade monstruosa. Realmente, aqui eu já tenho um pavor só de pensar na ideia de me perder, me tornando uma pessoa muito meticulosa e até medrosa, mas eu sei que se você errar algo aqui, as coisas não são tão simples como em João Pessoa e os caminhos são bem mais longos.
Então, no final de semana precisava ir à USP, para minha aula semanal de francês e já desisti de ir dirigindo porque não lembrava toda a trajetória. Resolvi ir com o meu irmão e ele me disse para voltar de ônibus e metrô, a palavra metrô já me apavorou, pois sempre achei que fosse ser muito complicado fazer a baldiação (trocar de uma linha para a outra) entre a linha verde e a azul e que fosse me perder na imensidão que é aquilo. Mas né, fui com a cara e a coragem, porque a gente não é mais criancinha e tem que aprender a se virar e enfrentar tudo o que vem pela frente. E como dizem que quem tem boca vai à Roma…
Ele foi me levar até o P1 (portaria principal) de carro na hora que acabou minha aula (sim, lá é grande demais pra ir andando, demorariam uns 20/30min pra chegar na saída) e foi me dando as coordenadas “ônibus laranja, que suba a Rebouças, desça na Paulista, vá pra estação do metrô Consolação, linha verde ‘algo sobre Vila Madalena’ vá até o Paraíso, faz baldiação e vá até o Jabaquara, pegue o ônibus pra casa.”
Eu fui fazendo tudo que ele havia dito, já que havia anotado essas instruções mentalmente. cheguei no metrô, comprei meu bilhete, passei pela catraca e desci. De um lado Sacomã, do outro Vila Madalena. Nessa hora, parei um minuto e pensei: o que foi que ele disse mesmo sobre isso? Era pra eu ir pela Vila Madalena ou não? Acho que era. Nessa hora o metrô chegou e eu quase saí voando, então entrei e sentei. Comecei a olhar o mapinha que fica nas paredes com as linhas e vi algo estranho, como não ouvi o que o auto-falante disse, esperei chegar na estação para ler nas paredes. Quando vi, estava na Clínicas, o lado oposto do que eu deveria ir, meu coração já acelerou e fui logo perguntar para um casal de senhores que estavam saindo. Eles me disseram o que eu já havia concluído, mas não souberam explicar o que eu deveria fazer. Em questão de segundos aquilo estava deserto, a não ser por uma menina que lia um livro sentada à um banco. Andei até ela e perguntei: “Você sabe como faço pra ir pra estação Paraíso?” ela me olhou e respondeu: “Olha, sou de Ribeirão Preto e não conheço absolutamente nada aqui, estou esperando uma amiga pra me levar aonde precisamos ir, desculpa.” Sorri e respondi: ” Sou daqui e não sei o que fazer, mas obrigada.” Me senti patética naquela hora né? Paulista/ Paulistana com quase 19 anos que não consegue ir pra casa. Por sorte avistei uma médica que tinha acabado de chegar ali, perguntei, ela me disse o que fazer. Percorri o trajeto rapidamente, só por precaução, perguntei à uma mulher que também estava descendo, se era ali mesmo que ia pra estação. Ela respondeu que era a primeira vez que ia também, mas que tinha olhado no mapa e era sim. Nessa hora comecei a ouvir o barulho do metrô vindo e então corri para descer alguns degraus da escada rolante e pegar aquele mesmo, já que não sou a pessoa que mais gosta de esperar. Ao entrar, perguntei de novo, só por uma precaução a mais à uma mulher. E depois, quando estava chegando perto da bendita estação, perguntei à outra se dava para fazer baldiação ali. Ela respondeu que sim e um pouco depois, quando estava chegando, vi na janela oposta a que eu ia descer escrito ‘Jabaquara’ bem grande, então desci lá e fui para o outro lado, seguindo as setas e é, eu consegui chegar em casa sã, salva e antes da chuva.
E pensar que horas antes eu mal sabia o que fazer.
Sabe aquela frase que dizem “há males que vem para o bem”? Então, se perder, em certas ocasiões, não só geograficamente, mas em qualquer outra situação, pode ser bom e na maioria das vezes, é. Te ensina a viver, te faz crescer, você tem que aprender, nem que seja à força, para sua própria sobrevivência.
E então você aprende que deve procurar mais à ajuda das pessoas e ser sempre simpática e educada, porque às vezes pode ser você, precisando de ajuda.
Aprende a não confiar tanto nos outros, porque eles podem te dizer coisas erradas, por mal ou não.
Aprende que nada na vida é fácil, mas que é isso que dá aquele gostinho e muitas vezes torna coisas que são tão simples, especiais.
E que você deve sempre confiar em você mesmo, porque ninguém melhor pra te guiar do que si próprio e acreditar que você pode e consegue.
As coisas podem se tornar difíceis, mas você lida com isso e depois de um tempo, relembra e nota como aquilo foi bom para o seu próprio crescimento.
Sempre vão existir imprevistos, obstáculos e até mesmo pessoas querendo bloquear seu caminho, mas é assim que deve ser. A gente pode até errar, mas a estrada certa está bem ali na frente, só é preciso enxergá-la e é assim que se vai mais longe e onde quiser, sendo isso um simples destino pra casa, como um grande objetivo da sua vida.

[Março de 2010 - por mim mesma]

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